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Onde Estão Os Gays Radicais?

segunda-feira, 13 de julho de 2009


(por Ricardo Rocha Aguieiras)
Para o site AthosGLS:
FONTE:http://www.athosgls.com.br/comportamento_visualiza.php


***


Onde Estão Os Gays Radicais?

"ra.di.cal
adj. m. e f. 1. Relativo à raiz. 2.
Fundamental, essencial. 3. Que pretende reformas absolutas em política. 4. Que
prega o radicalismo ou age com radicalismo; extremista. S. m. 1. Gram. A parte
invariável de uma palavra. 2. Mat. Sinal que se coloca antes das quantidades a
que se deve extrair alguma raiz" (Dicionário UOL)

O Radicalismo no sentido filosófico pode ser definido como uma política doutrinária reformista que prega o uso das ações extremas para gerar a transformação completa e imediata das organizações sociais.
O RADICALISMO propriamente dito é uma variante do Liberalismo que prega o reformismo de choque e a revolução social. Foi uma força política importante da esquerda Européia no século xix


"Não há perigo para um homem que sabe o que a
morte e a vida significam." - (Shelley)

“Sejamos Realistas! Peçamos o impossível!”( maio/68, muros de Sorbonne, Paris)


Minha forma de amar é radical. Sou passional e não gosto de meio-termo.
Quem lê essa primeira frase acima, pensa que sou eu quem a falou. Ou que estamos falando apenas do amor sensual entre duas pessoas. Bem, essa frase eu ouvi na USP, nos anos ’70, em plena ditadura militar, de uma amiga, tão menina ainda, que veio a morrer depois, na tortura. De certa maneira essa frase norteou boa parte da minha vida. Ela me remetia à definição de entrega que penso que devemos ter perante a vida. Quem cresceu no moralismo dos anos 50 e desde a adolescência se deparou com a contra-cultura, entenderá melhor isso. Da rebeldia sem causa à rebeldia com uma causa louca havia um grande espaço e a gente navegava entre eles e, ao contrário do que possam imaginar perante a repressão dos militares, perante o medo de sermos o próximo a sumir e perante a censura, éramos felizes, carregados de sonhos e utopias, talvez por termos um inimigo comum, só um, mas muito forte e poderoso. Era então muito fácil sonhar e unir forças, brincar com as utopias... mas isso é passado, não é?

Todos concordam que o mundo está diante de uma onda conservadora, que um dia viria, mas que pensávamos que podia ser mais adiante um pouco., um pouquinho mais. É, agora temos que contar com mais essa. Nunca vi tanto ódio como na Internet, agora. A informática inaugurou uma nova era que ainda está no começo. Trouxe um monte de coisas boas, um monte mesmo. Mas trouxe também a possibilidade de navegar anonimamente, criar nicks falsos e covardemente, impunemente atacar o próximo, segmentos, grupos ou orientação sexual. Atacar o que difere. É um território do amor e é um território do terror: voltaram as já velhas e tão conhecidas teorias nazistas, fundamentalistas e o fanatismo. Voltou o machismo e as ideologias alienantes, tudo com uma força tão grande que eu, outro dia estava refletindo se a minha felicidade individual não era maior naqueles anos de chumbo. Reconheço as enormes conquistas que a militância e o Movimento Homossexual Brasileiro trouxe, como, e principalmente, a visibilidade. Mas reconheço também que nunca valeu tanto aquele ditado:“Nunca despreze a força do inimigo”.

Quem passeia pela Internet, entra em salas de bate papo, em serviços de comunidades como o Orkut ou em de diversão e conhecimentos como o Yahoo Respostas, basta uma hora para entrar em depressão profunda, “depressão cava”, como falava nosso grande Nélson Rodrigues. O ódio está generalizado e generalizante. E nada como o amor radical para combater o ódio. Não somos vilipendiados apenas quando somos agredidos fisicamente, mas também quando ferem a nossa alma, nossos conceitos e negam virtualmente nossa existência. Hoje, o Espaço Virtual tomou tal importância – e os obscurantistas sabem disso melhor que ninguém – que ainda não sabemos quais serão os efeitos psicológicos, pessoais e sociais de tanto ataque na Internet, ataques em cima de tudo o que difere.


Então eu pergunto: Onde estão os Gays Radicais? Eu procuro, procuro e não os vejo. Então vou fazer deste artigo que escrevo uma brincadeira. Lembrem-se sempre antes, é uma brincadeira para ajudar a gente à reflexão, não estou propondo – ainda, risos – nada ilegal, espero...

É justo as pessoas e toda a sociedade, mídia etc. sempre partir do pressuposto de que somos todos heterossexuais? Cada ficha de financeiras, empregos, concursos públicos ou até assinatura de revistas tem lá um fatídico campo que me irrita: São aqueles quadradinhos que a gente tem que marcar com um “X” no “casado”; “solteiro”; “viúvo”; “divorciado”. Eu fico olhando o papel e me perguntando “como? Se o casamento entre homossexuais ainda não foi aprovado no Brasil?” Próximo ao Dia dos Namorados (olha o machismo e a heteronormalidade se impondo, não há “Dia das Namoradas...) , as vitrines ficam cheias de ofertas e arrumadas com manequins: um representando o namorado e outro representando a namorada. Não colocam dois bonecos juntos para vender roupa nem duas bonecas juntas, de mãos dadas.

Portanto, pensam que todo o mundo é heterossexual. Um gay radical pegaria um tijolo e mandaria ver naquela vitrine e depois pernas pra que te quero... E o repórter da televisão não merecia uma radical tomatada na cara quando, ao fazer uma matéria sobre “Possibilidades de emprego para a juventude” já vai perguntando ao garoto estudante de fim de secundário se ele tem namorada? Quantas situações semelhantes você e eu já não vivenciamos e continuamos vivenciando? No dia-a-dia, somos todos e todas heterossexuais. Até prova em contrário. Ou seja, temos que provar que NÃO somos, todos e todas, heterossexuais e, além disso, depois dessa prova temos ainda que lutar por alguns direitos básicos sempre esquecidos quando se trata de homossexualidade. Se nada disso funcionar, volto aí em cima: pernas pra que te quero!

Os Gays Radicais poderiam, por exemplo, seqüestrar o pastor ou padre homofóbico, em todo bairro tem uns dois ou três, e exigirem como resgate que os fiéis e a igreja deles fizessem durante três horas(três horas já estava bom!) leituras de poesias de autores reconhecidamente gays. Não seria legal? Enquanto ocorriam as negociações, usaríamos a mídia como chamariz para denunciar os maus - tratos a que somos diariamente submetidos só por que amamos diferente do que consideram como certo.

Nadinha de beijaços na frente do bar ou do restaurante que nos agrediu impedindo o nosso afeto. O gay radical poderá conseguir umas boas e gordas ratazanas vivas, em qualquer esgoto de Sampa tem um monte e só uma dúzia resolve e levar as roedoras obesas para alegrar a noite de sábado do mesmo, quando estiver cheio e lucrando. Para os/as radicais que têm medo de rato, pode-se usar com a mesmíssima eficiência umas duzentas representantes simpáticas insetas ortópteras da família dos Blatídeos, vulgarmente conhecida como Ba-ra-ta!Te garanto que, depois dessa, o dono do restaurante vai pensar dez vezes antes de externar gratuitamente os seus preconceitos e o seu ódio. À noite, já que a noite sempre foi amiga dos revolucionários e dos radicais, poderíamos sair pichando os muros: “Pela Liberdade Homossexual” ou “ Pela aprovação da Lei 122/2006” ou ainda: “Mães e Pais: não criem filhos homofóbicos!”...

Muitas vezes fico perplexo com o “bom mocismo” de uma parcela da militância gay. Em nome de uma “não-violência” chegam até a criticar os que agem em legítima defesa. Ou seja, melhor seria morrer do que partir para o contra-ataque? Radical também quer dizer fundamental... essencial. Ou uma greve de fome, quando leis em nosso favor forem negadas no Senado. Se acorrentar num poste da av. Paulista, engolir a chave e só sair de lá se for assinado um comprometimento pelas polícias de que todos os crimes de neonazistas e homofóbicos sejam solucionados, não apenas menos de 10 por cento. Além das tijoladas na vitrine, boicote total às lojas e marcas que mantém funcionários e atendimentos discriminatórios.

Exigir dos deputados aprovação de leis que cobrem das igrejas os mesmos impostos cobrados ao comércio. E beijaço é na frente das igrejas, mais eficiente. Igualmente, distribuir camisinhas na porta de igrejas chiques, como a Nossa Senhora do Brasil, nos Jardins, Sampa, em dia de casamento de filho de político, já que a Igreja Católica proíbe o uso da camisinha e assim contribui para a disseminação da Aids. Ações relâmpagos, como jantar num restaurante chique e levantar em determinado momento com um manifesto de protesto contra a homofobia, denúncia de crimes e assassinatos de homossexuais e pedindo pela aprovação de leis que nos protejam. Exigir explicações das polícias, urgente: por que batidas e mais batidas em saunas e boates gays, com a fragilíssima desculpa de “incentivo à prostituição”, indo direto nas delegacias, Ministério Público, Secretarias de Justiça e etc., afinal, por que saunas de heterossexuais e sabiamente locais de prostituição hétero são poupados? Depois, desculpem-me, mas a luta homossexual tem que ser uma luta de vanguarda, nunca de conformismo ou de adaptação.

Portanto, defender a prostituição como uma profissão teria que estar entre os nossos anseios, também. Faria diminuir o preconceito e sempre que isso ocorre provocam-se reações em cadeia fazendo bem a todos e todas. Se diminuirmos o racismo, por exemplo, pode crer que diminui também a homofobia. Se você abre o seu armário e sai dele está dando exemplo para que um monte faça o mesmo. Com a madeira dos armários construiríamos palcos para muito show de Drag. Tem que acabar esse papo de se dar caixinha ou suborno para policiais para um lugar gay sobreviver. Policiais têm que ganhar salários dignos e terem benefícios e segurança, mas esses devem vir legalmente, já pagamos impostos muito, muito altos justamente para isso.

A caixinha “por fora” e o suborno só contribuem para a corrupção e a permanência de uma situação “dominador versus dominado” que não é conveniente a ninguém e é uma armadilha: no dia em que faltar a grana, o simpático e sorridente policial que ia todo o mês lá, buscar o que considera seu, mas que não é, vira na hora mais um inimigo. E os nossos não são poucos, como podem ver. O empresário de estabelecimento gay e lésbico precisa deixar um pouco o seu egoísmo de lado e não visar apenas lucros rápidos, não se submeter a nenhum tipo de suborno ou achaque. E se algum lugar gay está sofrendo perseguição policial, isso é motivo de denúncia, não de silêncio. Silêncio e medo andam de mãos dadas e só favorecem o arbítrio. Sempre haverá um monte de desculpas para NÃO fazermos algo, não reagirmos. E, na análise histórica no futuro serão só isso: Desculpas.


1 já comentaram:

Pedro disse...

De tudo que eu vi e li sobre a nossa postura como Homossexuais, é sem dúvida o melhor artigo até então.
Eu me sindo angustiado em ouvir ofensar de fundamentalistas e outros, e a militância não fazer nada, como por exemplo, esses palhaços chamados Silas Malafaia, Magno Malta, Marcelo Crivella, Anthony Garotinho, Carlos Apolinários, outros, outros e outros, que falam tudo o querem se achando poderosos, tendo um departamentos jurídíco para processar seus opositores e nós homossesuais almejando um lugar ao sol, que eu particularmente não vai ser de mão beijada essa conquista. Creio que a luta mesmo será quando começar-mos á tomar porrada na rua, aí quem sabe o pessoal vai acordar.

24 de outubro de 2010 às 15:12